Primeiro de tudo, gostaria de expor que um dos criadores deste fone, Leonardo Drummond, é alguém que conheço e com o qual tenho contato e bastante respeito, mas não vou deixar que isto influencie o resultado da análise.
O Kuba Disco é um fone criado por uma startup brasilelira, composta por amantes e especialistas de áudio, e é supostamente o “primeiro fone de ouvido high-end 100% brasileiro”, cujo objetivo é realmente competir contra grandes marcas de áudio estrangeiras.
Mas será que o Kuba Disco realmente é um bom fone? Quais são os destaques dele? Como é o seu conforto e construção?
É o que veremos a seguir.
Construção e Recursos
O Kuba Disco apresenta como grande diferencial um sistema de regulagem de graves. Desmistificando um pouco isto, é um sistema que controla a quantia de ar que será deslocado pelos alto-falantes do fone, e é através disto pode-se controlar os graves. É basicamente um bass-port regulável.
Se você tem uma caixa de som com subwoofer, já deve ter notado que há uma entrada de ar na frente. Se você tapar esta entrada, a caixa fica sem ar para deslocar e os graves somem.
Créditos: How Stuff Works
Parece algo extremamente simples no papel, mas implementar isto na prática sem comprometer a qualidade de áudio de um fone é extremamente difícil, alguns outros fones como o Cooler Master MasterPulse possuem algo similar, mas a implementação não chega aos pés do que há no Kuba Disco.
O Kuba Disco possui o “sistema de controle de graves” mais eficaz que já testei em um fone. Ao mexer em suas quatro configurações possíveis, a assinatura sonora do fone realmente muda completamente, podendo ser um fone “seco e sem graves” (0, meio), “com uma leve presença de graves” (1), uma “quantia razoável de graves” (2) ou ele pode ter “graves bastante fortes” (3).
Uma crítica porém a este sistema, é que ele funciona para os dois lados. Ao contrário da maioria dos outros fones do mercado, o Kuba Disco é um fone 100% simétrico, não existe lado “esquerdo” ou “direito” até que você coloque os cabos nele. O que ontem era o “lado esquerdo”, hoje pode ser o “lado direito” se você trocar os cabos. A única forma para saber qual lado é qual, é olhando em qual lado está o controle de volume, que fica sempre situado ao lado direito.
Além disto tornar o fone um pouco confuso para colocar na cabeça, o ajuste de graves também é simétrico, então um erro que eu cometi, foi puxar as alavancas completamente para trás e depois completamente para frente, achando que haveria alguma diferença, quando na verdade eu estava trocando da configuração “3” para a configuração “3”.
A estrutura do Kuba Disco é bastante caprichada, o arco de madeira é feito de forma artesanal e composto por 3 lâminas da bambu internas e duas lâminas de Cherry externamente, e é bastante flexível e ao mesmo tempo não aparenta nenhuma fragilidade.
O cabo de nylon do Kuba Disco é o cabo mais fino de nylon entre todos os headphones/headsets que testei até hoje, mas mesmo assim não aparenta fragilidade. É leve, flexível e aparenta ser muito resistente, realmente muito bem feito.
Também, no cabo direito do fone há um controle de volume através de botões (que é bem mais resistente que as “rodinhas”) e um botão para atender chamadas e que também pode fazer algumas outras tarefas dependendo o seu celular. Junto a isto, há um microfone que mostrou ser um pouco mais competente do que eu esperava:
Qualidade Sonora
OK, chega disso e vamos falar da parte mais divertida: como é o áudio?
Resumidamente, fantástico. Já testei diversos fones nesta vida, desde fones profissionais e headsets gamer topo de linha, mas nenhum chega a ser tão divertido e se adaptar tão bem quanto o Kuba Disco.
Há muitos fones no mercado com “bastante graves”, mas estes graves normalmente são focados apenas em graves médios, ou então bastante embolados, sem realmente reproduzir as frequências com fieldade. Também, estes mesmos fones focados em graves, costumam ter agudos distorcidos e/ou recuados.
No lado oposto do espectro, há vários fones profissionais com agudos fantásticos, mas que deixam a desejar em seus graves, os quais se mostram “sem graça”, não possuindo impacto e apenas um pouco de extensão.
No meio, há fones que tentam agradar os dois lados, tal como o Creative Aurvana Live! 2 e Audio Technica M50x, tendo ótimos agudos e bons graves, embora o “bom em tudo”, acaba sendo “excelente em nada”.
O Kuba Disco é um fone que se tivesse que escolher, diria que se situa no “meio”, mas ele quebra toda a qualquer expectativa, se mostrando mais competente e ao mesmo tempo mais divertido que estes fones que citei.
Esqueçam o “bom em tudo, excelente em nada”, o Kuba Disco é “excelente em quase tudo”. Desde entregar impacto para músicas eletrônicas, ter presença e controle sobre seus graves para Blues/Jazz e entregar os detalhes de todas as frequências, o que é tão importante para o Rock.
O sistema de controle de graves realmente faz toda a diferença, mais do que achava que faria. É absurdo o quanto a assinatura sonora deste fone consegue mudar, mas ainda mais absurdo notar que mesmo com os graves no máximo, não há distorção neles, não ficam “embolados” e não impactam as outras frequências. É completamente diferente de usar “equalização”, pois muda uma característica do próprio fone, não apenas as frequências do áudio.
O controle e destaque dos graves do Kuba Disco é simplesmente absurdo
Parece até que há outro alto-falante dentro do fone reproduzindo apenas os graves pois o nível de controle e separação que há sobre eles é algo que não vejo em outros fones, nem mesmo fones que realmente possuem mais que um alto-falante por concha.
Mas, embora a configuração “3” por exemplo, ficava excelente para escutar Retrowave, em vídeos no YouTube os graves reforçados não ficam nada naturais em vozes. Mas, para corrigir isto, basta apenas diminuir para “0” ou “1” e o fone acaba ficando mais “natural”.
Pelo tanto que elogiei os graves deste fone, pode parecer que seus médios e agudos não sejam tão bons, mas você está muito errado se pensar assim. O nivel de detalhamento dos médios do Kuba Disco é absurdo, e seus agudos possuem uma excelente nitidez sem chegar a serem “agressivos”. Até mesmo a sensação de espaço e principalmente a separação de sons deste fone são absurdamente boas.
Sinto que a ideia do projeto do Kuba Disco era criar o fone com a “assinatura sonora mais agradável do mundo”, e caramba… Acho que conseguiram…
Conforto
Mas, nem tudo são flores. Serei bem honesto ao público, tenho uma cabeça ridiculamente grande, maior do que maioria das pessoas, além de usar óculos. Muitos fones que são confortáveis para várias outras pessoas (ex: AKG K414p) se tornam um “instrumento de tortura” para mim.
Tenho aversão a fones on-ear (fones que ficam repousados em cima da orelha, ao invés de cobrir ela) por más experiências no passado (ex: AKG K414p, AKG GHS1) e por não achar confortável o fato de um fone estar repousando na minha orelha ao invés de cobrir ela (que seriam fones over-ear).
O Kuba Disco mudou esta minha opinião sobre on-ears? Não, pelo contrário, só agravou ela.
O Kuba Disco utiliza almofadas de courino, estas um tanto mais rígidas que alguns concorrentes que utilizam a combinação de courino/memory foam. Segundo o designer do fone, este courino é mais durável que o normal, mas apresenta esta característica de ser um pouco mais “duro”. Confesso que em termos de conforto prefiro muito mais a “malha esportiva” que alguns outros fones utilizam, mas não chega ser um material ruim.
Porém, o que realmente me incomodou, é que mesmo trocando as almofadas pelas almofadas de outro fone de ouvido (SteelSeries Arctis 5) que acabam tornando este fone “over-ear” e melhorando bastante seu conforto, o clamping (força que o fone exerce na cabeça) excessivo deste fone, realmente não combinou com o tamanho da minha cabeça.
Para diminuir o clamping, fora recomendado que eu deixasse o fone por algumas horas esticado. Deixei lá por dias.
Melhorou, quando tirei ele da caixa, este fone era um “instrumento de tortura” para mim, hoje é apenas “desconfortável”.
Fazer isso inclusive acabou fazendo com que a tira superior do fone, se descolasse um pouco. De acordo com a fabricante, o método de cola das tiras agora melhorou bastante nas novas unidades, mas fica o aviso para quem possui algo do lote antigo.
O Kuba Disco possui um áudio simplesmente fantástico, mas sinto que sua estrutura é muito “rústica”, não apenas em aparência, mas no projeto em sí, já que este é realmente o primeiro fone da empresa.
Se eu passar 1 hora escutando músicas no Kuba Disco, esta será 1 hora de alegria, mas após passarei o resto do dia com fortes dores na minha orelha devido a sua estrutura ser inadequada para pessoas com cabeças grandes, ainda mais usuários de óculos.
Mas, gostaria de deixar claro ao público que esta é a minha opinião. Sua opinião sobre o conforto pode diferenciar bastante de acordo com o tamanho da sua cabeça, orelha, se usa óculos… Pode ser que para você o Kuba Disco seja bastante confortável, embora para mim não seja.
Quem usar e falar que o Kuba Disco é confortável, está certo, e quem usar e falar que o Kuba Disco é desconfortável, também está certo, pois o conforto depende de diversas variáveis, apenas sinto que a empresa realmente poderia ter feito algo diferente para agradar um número maior de pessoas.
Conclusão
{notas}
Em termos de áudio, o Kuba Disco é um excelente fone, é o fone mais “divertido” que usei até hoje para escutar quase qualquer gênero musical, desde Rock, Trance, Jazz e especialmente Retrowave, com o qual este fone combina ridiculamente bem.
A ideia do ajuste de graves foi bem implementada e o resultado é um fone que realmente consegue se adaptar de acordo com o uso e preferência do usuário, e isto é um tremendo diferencial que outros concorrentes não possuem, e é muito diferente de usar “equalização”.
O Kuba Disco pode não ser um fone barato estando situado na faixa de R$ 700, mas ele não compete contra Arcano, Superlux e outras marcas baratinhas, e sim contra marcas como Audio Technica, Beyerdynamic, Grado e várias outras que custam acima do preço dele. Ele é um fone “topo de linha” e tem preço de topo de linha.
Mas, ao mesmo tempo, a estrutura on-ear (onde o fone fica em cima da orelha, ao invés de cobrir ela) realmente não é algo para qualquer um, e o Kuba Disco não é um fone que fora planejado para pessoas com cabeças “avantajadas”, as quais infelizmente devem evitar este fone.
Espero muito que a Kuba faça um novo fone no futuro, com menos clamping e design over-ear (que cubra as orelhas, ao invés de ficar em cima delas). Mercado não irá faltar e ela já nos mostrou sua competência na questão de áudio.
Cabo em nylon extremamente bem feito e removível
Construção simples, mas bem feita
Controle de graves extremamente bem implementado
Qualidade de áudio excepcional, graves possuem uma excelente extensão, impacto e controle, médios bem detalhados e agudos nítidos mas sem agressividade
Completamente inadequado para quem possui uma cabeça grande
Inadequado para quem não curte fones “on-ear”
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