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INTERNET SUBMARINA!

Fibra óptica no fundo do mar: como funcionam os cabos submarinos de internet

Cabos submarinos de internet são opção mais rápida e mais barata para interligar EUA e América do Sul. Saiba tudo sobre eles.

Cabos submarinos de internet
Créditos: Mundo Conectado

Desde 2021 o Google está planejando interligar a internet dos Estados Unidos com a América do Sul através de um novo cabo submarino, o que significa ter uma internet mais rápida, e quem sabe, até mais barata! O Firmina, que é como esse novo cabo foi apelidado, faz parte de um grande investimento do Google pra aumentar a capacidade de tráfego internacional para o Brasil em 50%.

O Firmina será o cabo mais extenso do mundo a transmitir sinais sem a necessidade de reforço no meio do caminho. Ele conta com 12 pares de fibras ópticas e vai operar com apenas uma fonte de energia em uma das extremidades, o que é um grande avanço pra esse tipo de construção.

Internet do Google no Brasil

Além dele, o Google também é dono dos cabos internacionais Monet e Tannat, e é responsável por parte do cabo Junior, que interliga cidades brasileiras.

Todo esse investimento deve reduzir a latência das redes brasileiras em 4,7% e elevar em 37% a banda disponível por usuário até 2027. Os preços de trânsito IP também devem cair em 17%. Ao menos essa é a expectativa do Google.

Por tabela, essa melhora na internet entre os Estados Unidos e América do Sul vai impulsionar a economia. E por falar em dinheiro, o Google disse em um evento recente que já investiu cerca de R$ 1,6 bilhão em infraestrutura no Brasil desde 2017.

Ainda sobre o Firmina: ele foi batizado com esse nome em homenagem à Firmina dos Reis, a primeira mulher romancista do país.

Sobre sua rota, ele sai da costa Leste dos Estados Unidos, atravessa o Caribe e termina na América do Sul. Há algumas semanas, ele chegou oficialmente ao Uruguai, aportando em Punta Del Este. O trecho ainda em construção é o que liga o Uruguai ao Brasil através da cidade paulista Praia Grande.

Atualmente, o Brasil é conectado internacionalmente por vários cabos submarinos de diferentes donos, já que não é só a Google que tem esse “poder”. No total são 15 cabos já ativos e o Firmina que deverá entrar na lista ainda em 2023.

Cabos submarinos ligados ao Brasil (Imagem: Reprodução / Submarine Cable Map)
Cabos submarinos ligados ao Brasil (Imagem: Reprodução/Submarine Cable Map)

Os donos da internet global

Mas quem são os proprietários desses cabos de internet? Inicialmente, eles eram propriedade de operadoras de telecom (telecomunicação) que tinham interesse em usar essa estrutura.

No final dos anos 90 algumas empresas começaram a construir seus “cabos privados”. E estamos falando de companhias como Google, Facebook, Microsoft e Amazon, que investem bastante nessas estruturas.

Mapa mostra cabos submarinos no mundo (Imagem: Reprodução / Submarine Cable Map)
Mapa mostra cabos submarinos no mundo (Imagem: Reprodução/Submarine Cable Map)

Como funcionam os cabos submarinos

Os cabos submarinos são as verdadeiras veias e artérias da internet. Porque por mais que muitas conexões hoje funcionem por Wi-Fi, ou até mesmo por satélites, incluindo a Starlink, há uma super infraestrutura escondida nos oceanos que é responsável por mais de 90% da transmissão de dados entre os países e continentes. E além das próprias empresas de telecomunicações, diversos provedores de conteúdo dependem desses cabos para o transporte de dados.

Resgatando a história: o primeiro cabo submarino transatlântico foi lançado em 1858. É claro que ele não era um cabo de internet, mas de comunicação por telégrafo. Ele ligava os Estados Unidos à Irlanda e tinha 3.000 quilômetros de comprimento e era feito de cobre. O cabo foi enterrado no fundo do oceano a uma profundidade de cerca de 2.000 metros.

Mapa da rota do "Atlantic Cable" instalado em 1858 pela Atlantic Telegraph Company. (Imagem: Reprodução/Atlantic Cable)
Mapa da rota do “Atlantic Cable” instalado em 1858 pela Atlantic Telegraph Company. (Imagem: Reprodução/Atlantic Cable)

O cabo pertencia à Atlantic Telegraph Company e marcou um evento histórico, já que, pela primeira vez, as pessoas de dois continentes podiam se comunicar em tempo real. Foi ele que ajudou a popularizar o uso dos cabos submarinos pelo mundo, que hoje, são uma estrutura essencial para comunicação e internet.

Aqui no Brasil, os cabos submarinos são utilizados em sistemas de telecomunicações domésticas desde 1857, sendo o primeiro uma linha de comunicação telegráfica no Estado do Rio de Janeiro. Entre 1870 e 1880 foi criado um ponto de conexão submarino com Portugal. E, finalmente, na década de 90, foram inaugurados os primeiros cabos submarinos de fibra óptica por aqui.

Veja também: Cabos submarinos de internet podem detectar terremotos

No mundo todo, existem cerca de 400 cabos submarinos de internet, que totalizam mais de 1,2 milhão de quilômetros de comprimento. E é importante lembrar que esse número muda constantemente.

A estrutura dos cabos modernos é feita de fibra óptica (ou seja, vidro), já que esse material pode transmitir dados muito rapidamente. É por isso que a internet de fibra óptica que as provedoras vendem pra sua casa costuma ser bem mais rápida, e também mais cara!

Camadas de um cabo submarino de fibra óptica (Imagem: Quora/Reprodução)
Camadas de um cabo submarino de fibra óptica (Imagem: Quora/Reprodução)

E como tudo funciona dentro desses cabos? Bom, os dados são enviados de uma ponta por pulsos de luz, que depois são convertidos em eletricidade e enviados para as redes terrestres de internet que fica na outra ponta.

Mas existem alguns cuidados para que eles resistam ao fundo do mar. Por exemplo, as fibras são envoltas em muitas camadas de plástico e metais, além de outras adaptações para que os cabos resistam a condições extremas, como pressão, temperatura e corrosão.

É claro que há chances de que eles sejam danificados por navios, correntes oceânicas ou terremotos. É por isso que, quanto mais perto eles estão da costa, mais camadas extras de proteção eles recebem. Além, é claro, do monitoramento constante.

Estrutura padrão de cabos submarinos (Imagem: Research Gate, "Toward SDM-Based Submarine Optical Networks: A Review of Their Evolution and Upcoming Trends")
Estrutura padrão de cabos submarinos (Imagem: Research Gate, “Toward SDM-Based Submarine Optical Networks: A Review of Their Evolution and Upcoming Trends”)

Já na parte de profundidade, eles são instalados, é claro, no fundo do oceano, até 8 mil metros abaixo da superfície do mar. E pra evitar que algum navio ou correntes do oceano afetem sua estrutura, os cabos são enterrados próximo da costa, uma região que eles chamam de “plataforma”.

Como os cabos submarinos de internet são instalados?

É claro que toda essa estrutura precisa de navios especiais, que são chamados de… navios de cabos. Esses navios têm uma bobina gigante na proa, por onde o cabo é desenrolado e levado até o fundo do oceano.

Navio instalando um cabo submarino no Port de Donghae, na Coreia do Sul (Imagem: Divulgação/LS Cable & System)
Navio instalando um cabo submarino no Port de Donghae, na Coreia do Sul
(Imagem: Divulgação/LS Cable & System)

Como mencionado anteriormente, o Firmina será o cabo mais longo sem precisar de reforço. Isso porque muitos cabos são soldados uns nos outros por conta do grande comprimento. Então esses navios também têm máquinas para emendar as fibras óticas — e sim, isso é possível por métodos de fusão ou emenda mecânica — e soldar a parte externa dos cabos.

Todo o processo pode levar vários meses, já que o navio vai seguindo a rota e parando para fazer a instalação em cada ponto, além de instalar estações de retransmissão ao longo dessa rota. Esses repetidores são responsáveis por amplificar os sinais de luz que são transmitidos pelo cabo, e só eles pesam cerca de 500 kg, o que ajuda a segurar os cabos no fundo do oceano.

E se um cabo submarino for danificado?

Esse problema exige uma equipe profissional e especializada, e que vai depender do nível do problema e da profundidade em que o cabo está para ser solucionado. Barcos reforçados podem trazer os cabos pra superfície para realizar reparos, mas mergulhadores também podem resolver o problema, de acordo com a profundidade.

O conserto desses cabos é feito da forma mais rápida possível pra não atrasar a comunicação entre os países, afinal, além do acesso às redes sociais, a internet global também têm grande impacto em compra e venda de ações, reuniões empresariais, comunicação de líderes globais, etc. Por ano, é comum acontecer uma média de 100 incidentes.

Animais marinhos podem danificar os cabos? 

Há evidências de que tubarões tentam morder cabos no fundo do mar desde 1987. Até vídeos no YouTube mostram os bichinhos tentando mastigar os cabos. Entretanto, isso não deve interferir na estrutura, ainda bem!

Em média, o tempo de vida dos cabos submarinos dura 25 anos, mas eles são aposentados antes pra não ficarem obsoletos.

E por que as empresas não usam satélites? 

Acho que essa resposta você já imaginava: simplesmente porque os cabos podem transportar mais dados e custam bem menos pra isso — mesmo que essa infraestrutura custe na casa dos bilhões de dólares.

Fontes: Submarine Cable Map, Google e Anatel