O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está adotando uma abordagem inovadora em suas operações, com um robô assumindo decisões sobre aposentadorias, pensões e auxílios. Nos últimos meses, essa tecnologia já foi responsável por quatro em cada dez concessões desses importantes benefícios. O objetivo é agilizar o processo de análise, que historicamente enfrentou atrasos significativos.
Essa automação tem gerado debates intensos entre especialistas e observadores do sistema previdenciário. Aqueles a favor da mudança afirmam que o uso do robô permite uma análise mais rápida e eficiente dos pedidos, o que é crucial para reduzir as longas filas de espera enfrentadas pelos solicitantes de benefícios. Além disso, a automatização também busca mitigar erros humanos, proporcionando um processo mais padronizado e preciso.
No entanto, críticos levantam preocupações substanciais. A recusa automática de pedidos por falta de documentos é uma das principais controvérsias. Enquanto o INSS alega que a taxa de concessão permanece em 50%, especialistas apontam que o sistema pode não considerar fatores como o alto índice de analfabetismo digital entre a população idosa, dificultando o acesso de certos grupos aos benefícios.
Outra preocupação diz respeito à ausência de um atendimento presencial adequado para esclarecimento de dúvidas. A perda de mais da metade do pessoal do INSS nos últimos anos e a falta de peritos têm afetado a capacidade de oferecer suporte direto aos solicitantes, deixando muitos sem orientação em um processo complexo.
A trajetória rumo à automação começou em 2017 com o lançamento do aplicativo Central de Serviços, que evoluiu para o MeuINSS, agora o principal canal de atendimento para solicitações de aposentadoria. A transformação visava centralizar as informações dos contribuintes usando o CPF como identificador único, eliminando a necessidade de processos manuais fragmentados.
No entanto, o sistema automatizado só concede benefícios quando não há inconsistências no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), o que inclui detalhes como datas de empregos anteriores e salários de contribuição corretamente inseridos. Vínculos de emprego precisam ser registrados de maneira precisa, evitando negações incorretas.
Especialistas, como Adriana Abramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), argumentam que uma abordagem mais flexível seria mais justa. Ela sugere que o sistema permita uma fase de correção antes de negar automaticamente o benefício, encaminhando casos complexos para análise humana.
Apesar das controvérsias, o INSS afirma que o robô mantém a taxa histórica de concessão e concede metade dos pedidos iniciais. A instituição reconhece a necessidade de melhorias e evolução contínua em meio às mudanças tecnológicas. A transição para a automação visa equilibrar eficiência e acessibilidade, enquanto enfrenta os desafios que surgem no caminho.
Idosos tem grande dificuldade
A carência de pessoal exerce um impacto direto sobre a qualidade do atendimento. Com a transferência das solicitações de aposentadoria para a plataforma MeuINSS (via aplicativo ou site), as agências agora se concentram na resolução de dúvidas (mediante agendamento prévio) e na condução de perícias, quando necessário.
A exigência de apresentar documentos fisicamente nas agências foi substituída pela necessidade de digitalizar os arquivos e armazená-los em formato PDF.
Frequentemente, o grupo de indivíduos buscando benefícios enfrenta analfabetismo digital, não possuindo computadores ou celulares. Mesmo para agendar um atendimento, apenas chamadas de telefones fixos são aceitas, uma situação que complica a vida daqueles sem acesso a uma linha fixa. “Está completamente desconectado da realidade”, comenta Adriana Bramante, do IBDP.
Apesar de depender cada vez mais de sistemas tecnológicos, o sistema enfrenta interrupções constantes. Durante tais períodos, servidores e beneficiários ficam impossibilitados de acompanhar ou efetuar alterações em suas solicitações.
Desde o início do ano, a instituição registrou 51 episódios de instabilidade em seus sistemas, embora só informe ocorrências (seja de manutenção ou problemas) que ultrapassem três horas.
Até o mês de agosto, o MeuINSS enfrentou 19 situações de instabilidade, enquanto o CNIS, que abriga os dados dos trabalhadores, registrou 22.
Durante o intervalo de fevereiro a março, chegou-se a ficar até 15 a 20 dias sem sistema durante o horário comercial. “Nossos sistemas são extremamente precários e de difícil operacionalização”, aponta Cristiano Machado, diretor do Fenasps.
O INSS argumenta que está aprimorando seus processos. O órgão afirma que 18 mil servidores acessam esses sistemas, mas há um total de 300 mil pessoas interagindo com eles. Essa situação estava gerando uma considerável instabilidade.
Para lidar com a sobrecarga, o instituto informa que tem investido em infraestrutura para modernizar seus sistemas. Uma das ações implementadas envolve a realização de operações assíncronas.
Dessa forma, as informações são inseridas em um sistema e processadas somente fora do horário comercial, a fim de não afetar as operações de maior importância em tempo real.
Fonte: UOL
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